Constructiones
in Palatio
Há uns tempos atrás, num dia quente, visitei um mosteiro português, o Mosteiro de Alcobaça precisamente. Quando se entra num espaço destes, recebe-se o impacto do ar frio que parece brotar das espessas paredes de pedra, do silêncio que paira suavemente no ar. Deparamo-nos com uma atmosfera de contrastes pelos feixes de luz que rasgam o espaço e permitem desenhar formas. Percorri a nave central sentindo o cheiro dessa dimensão mística e espiritual, visitei os túmulos de D.Pedro I e Inês de Castro e entrei na monumental cozinha revestida a azulejo.
Este encontro com a história tornou-se especial. Especial porque a minha pintura passou a absorver, desde então, determinados elementos característicos do nosso património cultural, com especial relevo para a azulejaria portuguesa que ornamenta, se entrelaça e joga brilhantemente com a rudeza pétrea das arquitecturas dos nossos mosteiros, conventos, palácios... O espaço-palco de cariz mais doméstico e intimista que vinha explorando até então deu lugar a espaços-palco mais abrangentes os quais outrora foram palco da nossa história e que hoje são espaços de todos nós.
Constructiones in Palatio são construções desenvolvidas num espaço - espaço da pintura - de silêncio e quietude mergulhadas numa atmosfera museológica, a qual consciente ou inconscientemente desvenda uma certa paixão - paixão arqueológica - pela não comunicabilidade límpida, mas sim pela comunicação com interferências a qual está presente em toda a História e nos objectos que nos chegaram, os quais são essenciais para a construção dessa mesma História. Mas nunca um objecto conta tudo… mesmo carregado de factos! E é o que fica por contar que me fascina e me fertiliza a imaginação.