On Paper
A Pintura é a Pintura. As suas intrínsecas idiossincrasias parecem cintilar em paralelo com o conceito, com o que subjaz e imana, com o que não é escrito nem dito, mas porventura percepcionado. Há uma ambiência e uma história a ser contada. O chão que pisa não é físico, é um lençol de memórias, de afectividades onde o imaginário se deita e dança. Neste palco da Pintura, os lugares têm uma certa paz, um certo silêncio e ir ali é resgatar a possibilidade de imaginar no deserto.
On Paper surge como uma necessidade de intervalo, utilizando exclusivamente o papel como suporte. Não enquanto estudo, mas como obra pictórica. O papel, pela sua alta capacidade de absorção, implica sempre uma atitude diferente do fazer. Tudo o que o papel absorve retém, não sendo possível “apagar” as marcas do processo compositivo, ainda que estas possam ser cobertas de novas formas. O seu histórico está todo lá, fossilizado. É neste ponto que tudo muda. A mente percebe e o medo acanha-se. A espontaneidade joga com o “erro”, aceita-o e dá espaço à intuição.
O papel tem a sua dignidade própria, ainda que não sendo ele a Pintura, participou nela. É o suporte que esta escolheu para crescer e ser o que é.